ACL - FUNDO DE ARQUIVO CARLOS LACERDA
 / Artigo de Márcio Moreira Alves, de Brasília. (Jornal “O GLOBO”, 11/01/1997)
Faleceu no dia cinco de abril de 2009 o notável jornalista e combativo político Marcio Moreira Alves e muitas e merecidas homenagens lhe foram prestadas. A Fundamar tem um motivo particular para admirá-lo e agradecer. Foi ele o primeiro jornalista de nome nacional a divulgar o projeto Fazenda Escola Fundamar nos idos de 1997 através do jornal O Globo. Fora à liberdade poética de atribuir a um generoso milionário a instituição da Fundamar - Fundação 18 de Março e outros equívocos menores, o artigo foi de grande importância para divulgar um dos empreendimentos da Fundamar. É no sentido de manifestar o agradecimento da instituição ao grande jornalista e notável político que inserimos neste site as suas palavras estimulantes.

UMA ESCOLA RURAL


• As iniciativas que dão certo no Brasil costumam ter, pelo menos, dois elementos em comum: o envolvimento da comunidade, que representa a vontade coletiva, e alguém que um dia deu um murro na mesa, disse “basta de ser subdesenvolvido”, e convenceu os seus colegas de trabalho da possibilidade de fazer as coisas direito, apesar das dificuldades burocráticas e da cultura do relaxamento. É o elemento voluntário.

Geralmente, a união entre a comunidade e o grupo fundador de experiências exemplares acontece nas cidades. Nelas se concentra a população e, portanto, os profissionais mais competentes. Os exemplos nas áreas rurais são muito mais raros. É essa singularidade que me faz contar hoje a história da Escola Estadual Fundamar, localizada em uma propriedade de 84 hectares no quilômetro 19 da rodovia entre Paraguaçu e Machado, no Sul de Minas, perto de Alfenas, na zona de influência da represa de Furnas.
A Escola Fundamar, que atenderá este ano 500 alunos, da pré-escola até a 8ª série, nasceu um pouco por acaso. A propriedade onde está integra os bens da Fundação 18 de Março, criada, em Belo Horizonte, por um generoso milionário, que preferiu se manter anônimo. A data que dá nome à fundação corresponde à do nascimento do primeiro neto do fundador, dia que considerou o mais feliz de sua vida.
O objetivo inicial da Fundação 18 de Março era prestar assistência jurídica aos necessitados e criar, no edifício do Fórum, em espaço que preservasse a memória, os trabalhos e a biblioteca de Amílcar de Castro, um jurista ilustre. A escola, fundada em 1986, tinha o propósito inicial de atender apenas ás crianças da fazenda e das fazendas vizinhas.
Ao longo destes anos, desenvolveram-se dois elos de círculo virtuoso, digamos assim, para ficar na moda dos sociólogos. O primeiro foi a crescente paixão dos diretores da fundação e, em especial, da foniatra Creusa Prado Ornellas, hoje coordenadora da escola, pela missão de dar uma educação moderna aos filhos dos assalariados rurais e pequenos sitiantes, que formam a maior parte da sua clientela. A segunda foi o início de uma revolução no ensino público de Minas Gerais, há seis anos.
O presidente da fundação, Tadeu Viana da Costa, diz que a Secretaria da Educação de Minas passou a dar inteira liberdade às escolas para estabelecer os seus currículos, o seu cronograma de trabalho e a aplicação do dinheiro que lhes é repassado, respeitados alguns padrões educacionais básicos e requisitos legais...
- Agora, o dinheiro não apenas sai da Secretaria de Educação. Ele chega mesmo às caixas escolares, garante.
Creusa mudou-se para Paraguaçu, onde coordena os trabalhos da escola, e transformou-se na liderança voluntarista sempre presente na implantação dos centros de excelência.
As chaves do êxito estão em algumas decisões administrativas, que passaram a ser comuns nas escolas mineiras: o concurso público para a escolha de diretoras de escolas; a constituição de um colegiado escolar, formado por professores, funcionários, pais e alunos maiores de 16 anos; a eleição, pelo colegiado, da diretoria, para um mandato de dois anos; avaliações dos resultados pedagógicos a cargo da Secretaria da Educação e, sobretudo, a instituição da caixa escolar, que não integra a administração pública.
A caixa escolar pode gastar o seu dinheiro como os seus administradores entenderem. Pode comprar alimentos diretamente no mercado local, fazer rapidamente as obras necessárias nos prédios e complementar o salário dos professores e funcionários. A prestação de contas é feita ao colegiado.
O movimento da caixa escolar Fundamar tem crescido com o tempo. Em 1994, movimentou R$ 28 mil, passou a R$ 76 mil em 1995 e fechou 1996 com gastos de R$ 140 mil, incluindo-se na conta os R$ 37 mil empregados na reforma dos seus prédios.
A Escola Fundamar, que funciona em tempo integral, manda buscar e levar em casa os seus alunos, o que só se tornou possível graças a uma parceria com a Fundação Vitae, de São Paulo. Os alunos recebem cinco refeições por dia, educação básica e, os mais velhos, educação profissional, nas oficinas que a escola mantém.
A alimentação representa 35% das despesas de manutenção e custeio, outros 35% são para o sistema de transporte, indispensável no meio rural, 15% vão para a manutenção dos equipamentos e dos prédios, 7% para a aquisição de material pedagógico, 6% para a aquisição de material escolar e 2% para material de higiene, limpeza e outros. Cada aluno custa R$ 280 por ano, o que está um pouco abaixo dos 300 que o Ministério da Educação considera ser o mínimo possível para o ensino básico funcione corretamente. Na divisão dos recursos, a Secretaria da Educação entra com 60% do total e a Fundação 18 de Março com 40%, diretamente ou através de convênios com outras entidades.
A Escola Fundamar tem 97 funcionários, sendo 29 professores regentes, 21 monitores e os outros 47 funcionários encarregados de tarefas diversas. Oito monitores não têm habilitação em magistério, mas seis deles estão em um curso de habitação da Secretaria da Educação.
Segundo as avaliações a que a escola tem sido submetida, o aproveitamento de seus alunos corresponde à média dos alunos de escolas urbanas, o que raramente ocorre em escolas rurais. Em matemática, a sua média é até superior à dos estudantes da cidade.
Há um obstáculo: como o nível educacional e econômico dos pais e alunos é baixo, o seu nível de exigências é praticamente nulo. Acham que estão recebendo mais do que merecem.
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